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Narrador Adolescente


Depois de pavimentada, a antiga rua cresceu para o infinito. No meio desse infindo corredor, delineado por árvores e muros, flutuava Samuel, apoiado por pequenas nuvens, produto de seu pequeno sonho, que acabara de virar realidade. Naquela hora, de modo meio inoportuno, voltavam à cabeça os discursos de sua mãe, coisas sobre paciência e o dom do vencedor. Divagava nessa bruma leve de acontecimentos, desencadeada pelo tufão de horas atrás.

Duas horas atrás, Samuel fitava a porta da casa dela, o braço paralisado, bem distante da campainha. O autocontrole lhe veio dez minutos depois, tomou coragem, sacudiu a cabeça e apertou o botão. Do outro lado da porta, o som abafado de passos o fez sobressaltar um pouco, esperava que fosse ela a abrir a porta. E assim o foi. Estava vestida de modo confortável, fresco (assim ele achava) e com os cabelos negros presos em um coque. Perguntou se estava pronta, ela acenou positivamente, e saíram pela rua discutindo impressões e devaneios quaisquer. Mais tarde, depois de tomarem um sorvete e caminharem, se sentaram no meio fio de uma rua deserta, sob a sombra de uma árvore. Nesse momento, reinou um silêncio tênue com um fundo acústico citadino, se entreolharam um pouco, depois, fitaram um prédio do outro lado da rua. Ela começou a desabafar.

Falou bastante, pois acabara de romper com o namorado. Samuel escutou silenciosamente, pensava em coisas que poderia dizer, e temia se algumas delas seriam incômodas, porém não podia ficar mais tempo calado. Estava atemorizado, mas disse com uma voz clara:

- Acho que ele não era a pessoa certa para você. Você merece melhor – soou idiota aos seus ouvidos, e era, mas ela não se importou.

- Quem seria então? – retorquiu.

- Eu – respondeu de pronto.

Ela o olhou ternamente. Samuel escondeu sua cara de surpresa com a reação da garota, porém era a única coisa da qual tinha controle, pois involuntariamente se ouviu dizendo:

- Você quer que eu diga que te amo, Marina?

Ele não percebeu, mas já estavam de pé. Olhos nos olhos. Um vento com cheiro de chuva iniciou um farfalhar de folhas em todas as direções. Hipnótico. Um transe apenas rompido pelas palavras de Marina:

- Estava pensando em te beijar.

Samuel se aproximou e ela permitiu. No meio do tufão havia sorvete, nostalgia, alívio e desorganização. Ela era dissimulada? Não importa, nem foi bom, mas foi o bastante para Samuel se segurar em algumas estruturas. Guardou alguns sorrisos, e mais tarde, depois da catástrofe, se via entorpecido em meio à brisa e o infinito.

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Arquivo

Perfeccionista, Canceriana com ascendente em Libra e lua em Aquário, tímida, curiosa, orgulhosa até demais, instável, intuitiva, alegre, detalhista, escritora, fiel, dramática, misteriosa, cacheada, amante de fotografia, aspirante a poeta, leitora, prestativa, carionhosa, fofa, míope, simpática, cativante e eternamente responsável por tudo o que cativo.

Natane Simões

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Colaboradores

Lucas Passos

Detalhista, desinibido, introvertido, orgulhoso, impactante, sorridente e aprendiz de feiticeiro. Amante do impressionável e do esdrúxulo, mas também de pequenas e suaves histórias, dramático em certo nível e curioso.

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